‘O desporto universitário tem um papel essencial para todos os jovens’ – João Rocha

João Rocha é uma das caras mais conhecidas do Instituto Politécnico de Castelo Branco (IPCB). Os títulos alcançados e a presença na Seleção Nacional de Basquetebol são algumas das conquistas a destacar no currículo desportivo do ex-atleta, que assume as rédeas do comando técnico da equipa albicastrense desde 2017. Na última edição das Fases Finais, os estudantes-atletas do IPCB conquistaram o quarto lugar, mas o treinador admite que o objetivo é o pódio.

 

 

Tem 46 anos, é treinador e professor adjunto convidado no IPCB. Contudo, o percurso foi longo ainda antes de conhecer os quadros táticos. João Rocha ganhou destaque na modalidade no final dos anos noventa, enquanto atleta, com as várias participações nas seleções nacionais e os títulos que conquistou ao serviço do FC Porto. No entanto, os primeiros passos no mundo do desporto foram atribulados. Depois de passagens por várias modalidades, sem muito sucesso, João Rocha experimentou basquetebol e... também não teve sucesso à primeira. Ainda assim, o gosto pelos cestos levaram-no a continuar, apesar de não ter ficado na seleção dos melhores no SC Farense, clube onde começou. A mãe e outros pais de atletas que ficaram de fora da lista dos melhores foram falar com o treinador e a equipa de Faro lá abriu uma segunda equipa. ‘Começamos a perder contra tudo e contra todos, mas fomos crescendo e evoluindo. Passados três anos, ganhamos os títulos todos no Algarve e fui convocado pela primeira vez para a Seleção Nacional’, conta o treinador, admitindo que não era tão talentoso como os restantes colegas de seleção.

 

O melhor ainda estava para vir. Na Fase Final do Campeonato Nacional de Cadetes, o clube algarvio enfrentou os dragões, partida que João Rocha não mais esqueceu. Os 22 pontos e 28 ressaltos captaram a atenção de dois dirigentes do FC Porto. Desde aí, a vida de João mudou ‘da água para o vinho’, com o convite para vestir de azul e branco. ‘Passei de treinar três vezes por semana, para treinar três vezes por dia a partir dos meus 17 anos’, disse. Com um novo desafio desportivo em mãos, foi tempo de orientar a vida académica. ‘Já que gostava de desporto, escolhi aprofundar essa área e como era atleta de alto rendimento, podia escolher qualquer curso a nível nacional, mas optei pela licenciatura em Desporto e Educação Física na Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física da Universidade do Porto [FADEUP]’, lembra. Começaram então os ‘anos dourados’ de João Rocha, com destaque para a vitória que pôs um ponto final à hegemonia que o SL Benfica tinha na modalidade nos anos noventa. Ainda com saídas para o FC Gaia (por empréstimo dos portistas), para o Leiria Basket e para o SC Lusitânia, nos Açores, acabou por terminar a carreira no clube das Antas devido a uma lesão. ‘Mesmo com a recuperação, decidi terminar a carreira, visto que nessa altura já tinha o mestrado e então escolhi dar uso a essa vertente académica’, explica.

 

Antes de começar a lecionar e a treinar equipas, conciliar os estudos com os treinos não foi um caminho de rosas para o ex-atleta de basquetebol. ‘Não é fácil conciliar as duas coisas, ser atleta de alto rendimento causa muito desgaste. Tal era o desgaste, que tinha de estudar em cafés ou em locais onde não iria adormecer, porque se ficasse em casa não conseguia. A fadiga era mesmo muita’, conta, sublinhando a importância do estatuto de atleta de alto rendimento em alguns momentos. Com treinos de manhã, à tarde e à noite, João não conseguia assistir a todas as aulas do curso. Contudo, o treinador admite que o truque está na organização e na capacidade de acompanhar a matéria, não esquecendo a importância da colaboração por parte dos colegas e dos professores.

 

A transição para treinador não foi difícil para João Rocha. Ainda enquanto jogador, o professor adjunto convidado do IPCB ia dando uma mãozinha às camadas jovens dos dragões, onde acumulou a função de treinador e adjunto. ‘Foi algo de que gostei e fui investindo nisso. Esta transição foi feita de uma forma muito natural porque já vinha com todo o passado de atleta, lidava com os melhores treinadores do país ao mais alto nível, com passagens pelas competições europeias, quer seja pelo clube ou pelas seleções, por isso tive contacto com muitos treinadores e aprendi muito com eles’, conta. Para além de ser a sua área de estudos, o currículo desportivo enquanto jogador permitiu que João Rocha ganhasse muita experiência e adquirisse ferramentas para vir a treinar no futuro. ‘Observava o trabalho que os meus treinadores faziam, analisava e falava com eles para trocar ideias. Isto porque quando chegamos a um certo nível, ser jogador não é só executar, mas é também perceber e tentar solucionar os problemas dentro de campo, junto dos diferentes colegas de equipa’, esclarece.

 

Com o diploma de mestre em Treino de Alto Rendimento, João foi para Bragança, onde começou a lecionar no ensino superior. ‘A minha tese de mestrado foi com os quatro melhores treinadores nacionais, entre 1995 e 2005. A ideia era ver como é que estes treinadores desenvolveram o seu conhecimento e foram evoluindo para serem tão bons treinadores e apresentarem bons resultados. No ano passado, apresentei um livro sobre a minha tese de mestrado, focado no treino para treinadores de basquetebol e de outras modalidades’, refere. Durante algum tempo, essas páginas foram uma bíblia para o ex-atleta que ia bebendo da aprendizagem dos melhores treinadores e que não esconde o desejo de vir a ser treinador de alta competição de basquetebol, ao nível do que conquistou enquanto jogador. Ainda antes de terminar o doutoramento, João Rocha teve um novo desafio fora do País.  ‘Fui trabalhar para o programa Jr. NBA, na Índia. É um programa de formação de professores para o ensino do basquetebol nas escolas, onde explicávamos como deveriam ensinar o basquetebol e fazíamos um acompanhamento desse ensino didático. Foi por aí também que realizei a minha tese de doutoramento’, revela o treinador, doutorado pela Universidade de Santiago Compostela.

 

‘Este é um projeto universitário para os universitários’

 

Depois de dois anos dedicados a um programa que continua a impactar milhões de jovens em todo o globo, chegou a hora de regressar a Portugal, onde foi convidado para lecionar no IPCB, função que desempenha atualmente. ‘Um dos aspetos que considerei importante quando cheguei a Castelo Branco foi o desporto universitário e a possibilidade de os estudantes-atletas praticarem basquetebol. Achei que seria um projeto interessante para desenvolver o interior e as instituições de ensino superior que têm menos procura por parte dos estudantes’, afirma. Segundo o antigo basquetebolista, o ensino superior pode ser uma importante porta para o desenvolvimento e continuidade da formação desportiva de todos os jovens, uma vez que se ‘assiste a muitas desistências quando estes ingressam na universidade, onde se perdem bons praticantes devido à falta de oferta desportiva’.

 

Com jovens dos quatro cantos do País e também do estrangeiro, o IPCB continua a construir a sua equipa, e João Rocha deixa a sugestão para que outros politécnicos possam pensar em projetos semelhantes. ‘Muitos politécnicos podem ser a solução para a continuidade da formação desportiva de muitos praticantes. Este tipo de projetos são sempre uma boa forma de dar notoriedade e visibilidade, quer a nível nacional quer internacional, à instituição. Pode ser uma maneira atrativa para captar estudantes, pois há também uma importante relação com um clube local [a ABA - Associação Basquetebol Albicastrense]’, sugere. Num projeto que conta a idade pelos dedos de uma mão, já começam a aparecer alguns resultados, exemplo disso é o quarto lugar conquistado na Fase Final do Campeonato Nacional Universitário (CNU) de basquetebol masculino, que decorreu na Covilhã e no Fundão em 2021. No entanto, o objetivo por chegar às medalhas. ‘Este é um projeto universitário para os universitários. Temos aspirações de ficar acima do quarto lugar do ano passado. Esta época, participámos pela primeira vez com uma equipa feminina, o que nos deixa muito orgulhosos’, sublinha.

 

Treinar, treinar e treinar. É esta a tática escolhida para os próximos tempos. Além do sonho com o pódio, João Rocha quer ver um futuro risonho para aqueles que treina. ‘Quero que o projeto do IPCB ajude os atletas a serem chamados à Seleção Nacional e que possam ir para grandes clubes após a formação desportiva e académica. É para isso que trabalhamos todos os dias’.

 

A criação de um escalão universitário e a continuidade da formação desportiva no ensino superior 

 

Segundo o treinador da equipa albicastrense, o desporto universitário assume extrema importância. ‘O desporto universitário tem um papel essencial para todos os jovens. Acho que deveria ser ainda mais importante. Seria fulcral para formação dos jovens portugueses existir um CNU contínuo e regular, como se faz nos Estados Unidos da América em todas as modalidades’. O treinador defende a criação de um escalão universitário, de forma a ‘apoiar a entrada dos jovens que ingressam no ensino superior e que ainda não têm espaço nas equipas seniores devido à falta de experiência’, contribuindo para o crescimento, desenvolvimento e formação durante o período em que se dedicam também a uma carreira académica.

 

‘É um privilégio ter a oportunidade de trabalhar com pessoas como o João Rocha’

 

Rui Paulo é uma das pessoas que acompanha de perto o trabalho de João Rocha em Castelo Branco, seja no projeto de basquetebol, seja enquanto coordenador do curso de Desporto e Atividade Física. ‘Não o conhecia pessoalmente, apenas como uma referência no basquetebol. Desde o início, sempre demonstrou ser uma pessoa de fácil relação, muito colaborativo e disponível para qualquer projeto. Quando assim é, torna-se fácil de criar ligações pessoais e profissionais’, refere o professor de 39 anos. Rui considera ainda que ‘é um privilégio ter a oportunidade de trabalhar com pessoas como o João Rocha’, destacando o nível de exigência e a aprendizagem mútua entre todos. Para além disso, evidencia também o papel do treinador albicastrense no aumento significativo do nível competitivo, do número dos praticantes e das condições de trabalho e treino. Segundo Rui Paulo, esses aumentos refletem-se nos resultados das equipas. Contudo, o quarto lugar no CNU continua a saber a pouco para o coordenador, visto que a ‘equipa não contou com alguns atletas que tiveram de regressar a casa devido à pandemia’ e para futuro a tónica é a mesma: conseguir um lugar no pódio. A colaborar na área administrativa e de gestão do projeto em Castelo Branco, Rui estabelece ainda como objetivo o contínuo aumento de praticantes a nível federado e universitário. Sobre o desporto universitário, considera que a ‘importância é notória e multifatorial, pois este acarreta benefícios a nível social, físico e psicológico, potenciando a adoção de estilos de vida ativos e saudáveis, que cada vez são mais difíceis de manter’.

 

 

 

 

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