‘A obrigatoriedade de os treinadores serem credenciados é ir para onde queremos estar’ – Daniela Correia

Daniela Correia tem 35 anos e é treinadora da equipa masculina de Rugby 7 da Associação de Estudantes da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (AEFEUP). Está ligada à modalidade desde os 21 anos e além de ser treinadora dá aulas de rugby, tanto na Universidade da Maia como no Instituto Politécnico da Maia. Esteve nomeada para treinadora do ano na última gala da FADU e acredita que o desporto universitário está a caminhar na direção certa.

 

 

 

Quando começou a sua ligação ao Rugby?

Daniela Correia (DC) - A minha ligação ao rugby começou, exatamente, quando estudei a unidade curricular dessa modalidade, na licenciatura que tirei em Educação Física e Desporto, no ISMAI, e que agora estou a lecionar. Na altura jogava futebol 11, porque, na minha área de residência, pouco mais havia para as mulheres. Conheci o rugby com o professor Nuno Gramaxo, e a partir daí fui-me desligando do futebol e dedicando mais tempo ao rugby.

 

Apaixonou-se logo pela modalidade nesse primeiro contacto?

(DC) - Foi, foi logo! Eu tinha muito pouco ou nenhum conhecimento, inclusive nas minhas aulas de Educação Física, tanto na escola básica como secundária, acho que nunca tive contacto com a modalidade sequer, mas era um desporto que eu, pontualmente, conseguia assistir, e chamava-me a atenção, mas como não conhecia ninguém que tivesse conhecimento da modalidade, nunca aprofundei. Mas quando a conheci foi de forma espontânea a paixão, foi imediata.

 

Como foi o seu percurso no rugby desde aí?

(DC) - No ano em que tive a unidade curricular de rugby (2008), eu, algumas colegas minhas e o professor Nuno Gramaxo formamos uma equipa universitária feminina e começamos a competir nos campeonatos universitários. Depois disso, como gostámos tanto, quisemos inscrever a equipa na federação, e poder participar nos campeonatos nacionais. Todas viemos de outras modalidades, então eramos novas e estávamos no mesmo ponto. Era uma equipa recente e sem qualquer conhecimento prévio, a única pessoa que tinha algum era o professor Nuno. Depois de, talvez, dois anos a jogar pelo ISMAI, foi essa a equipa que inscrevemos. Mais tarde algumas fomos para o Centro de Desporto da Universidade do Porto (CDUP), porque na altura era a única equipa feminina que existia, sem contar com o ISMAI, e nessa equipa poucas de nós se mantiveram durante a época, mas eu continuei. Mais tarde formamos o Clube do Boavista, porque queríamos voltar a juntar as pessoas da equipa que criamos inicialmente, e tivemos de começar de novo, inscrevendo também esta equipa na federação. Depois fui chamada, pela primeira vez, à seleção nacional, como atleta do Boavista, e desde então nunca mais saí. Enquanto clube, depois formamos a equipa feminina do Sport Club do Porto e, mais tarde, eu em conjunto com o professor Nuno, formamos as camadas jovens do clube, e foi aí que me iniciei como treinadora. Entretanto, como jogadora, tive uma passagem de, sensivelmente, um ano e meio pelo Sporting Clube de Portugal, em Lisboa, mas era muito difícil conciliar a minha vida cá (Porto), onde treino e jogo, com a de lá (Lisboa). Foi uma passagem breve, mas na qual obtive alguns títulos nacionais. E como treinadora fui começando a tirar alguns cursos, tirei o de treinadora de rugby grau 2 e treinadora de rugby sevens grau 2. Ainda antes de treinar a equipa masculina da AEFEUP, estive nos Campeonatos Nacionais Universitários como treinadora da equipa feminina do Instituto Politécnico do Porto (P. Porto). Tenho tentado formar equipa tanto no ISMAI como no Instituto Politécnico da Maia (IPMAIA), mas até agora não temos conseguido, tem havido algumas coisas que não têm sido fáceis, é uma coisa que eu quero fazer, mas enquanto não conseguir, este convite, por parte da AEFEUP, foi espetacular. E estou atualmente no Sport Club do Porto, já estive com os miúdos desde sub-8 até sub-18 e neste momento estou apenas com os sub-10.

 

O que mais a cativa nesta modalidade?

(DC) - Primeiro é a sua simplicidade, do conhecimento que eu tinha, que era praticamente nulo, parecia-me um desporto muito difícil, e isso até me cativou, mas quando comecei a praticar percebi que é um jogo tão simples, mas inteligente ao mesmo tempo, requer conhecimento. O facto de se poder correr à vontade com a bola na mão, não havendo um limite de passos e podendo correr para a frente, à vontade, só tendo de me desviar, fintar… isso cativou-me. Por outro lado, o que também me cativou foram as pessoas que estão no rugby, o ambiente que se vive, porque como eu só conhecia o ambiente do futebol, para mim era um ambiente normal, não tinha termo de comparação. Comecei a conhecer as pessoas e todo o ambiente que está neste desporto, percebi que havia dois mundos muito diferentes e que sou muito mais ligada ao mundo do rugby do que ao do futebol. Aos poucos fui-me desligando do futebol, mas ainda mantive os dois desportos durante algum tempo, porque no início a competição de rugby não era regular, e eu gosto de competir, e gostava também de futebol e do desporto em si, e fui me mantendo. Mas sem dúvida que o que me fez desligar totalmente foi a diferenciação entre estes dois ambientes. No rugby toda a gente se respeita porque o desporto é um espetáculo e, se não for de todas as partes, não o é.

 

Quando começou a treinar a equipa masculina de Rugby 7 da AEFEUP?

(DC) - Este ano. Convidaram-me quando faltava muito pouco tempo para a competição, inclusive, teve que um colega meu ir dar os treinos, porque eu não conseguia. Os horários são complicados de conciliar. Lembro-me de, enquanto jogadora na universidade, o mais difícil era conseguir que toda a gente estivesse disponível à mesma hora, quer o treinador, quer os jogadores, e, quando estamos a treinar para uma competição especifica, é ainda mais complicado. Fui convidada, dois meses antes da competição, e fomos trabalhando e percebendo que não dava para estarmos todos juntos, então juntamo-nos na semana que antecedeu a competição e como havia muitos jogadores que já que tinham vivências do rugby tornou-se mais fácil. Foi montar uma equipa e todos lutaram pelo mesmo objetivo.

 

Que títulos e prémios já conquistaram?

(DC) - O título de campeões no Campeonato Nacional Universitário de Sevens. Lembro-me perfeitamente que eles (jogadores) ficaram muito tristes, porque tinham conquistado o título e não houve europeu. Então queremos este ano conseguir o objetivo de manter o campeonato, para conseguirmos ir ao europeu.

 

É diferente treinar uma equipa masculina de treinar uma feminina?

(DC) - Sim, é muito diferente. Penso que a principal diferença seja o facto de os homens serem mais intensos e efetivos, fazem o que se diz, não questionam muito, as mulheres questionam mais. Não sei qual deles é o ideal, acho que nem um nem outro, porque por vezes, nós enquanto treinadores queremos atletas que questionem e que nos façam ver outras formas, mas às vezes nem tanto, portanto as duas têm prós e contras.

 

Normalmente, com que regularidade treinam?

(DC) - Os treinos que nós fizemos na altura do CNU eram uma vez por semana, mas eu só consegui estar com eles na última semana, portanto, até aí, foram eles é que foram conseguindo fazer o que se podia, uma vez que no dia em que eles treinavam era impossível para mim. Foram eles e na última semana é que adaptamos o estilo de jogo. Agora já me contactaram para este ano, porque como vamos ter o europeu, as coisas têm que ser feitas de outra forma, mais preparadas, porque os objetivos são altos.

 

O que é que este desporto tem de mais desafiante?

(DC) - Eu penso que o mais desafiante é a parte física. Temos de estar fisicamente aptos todos os dias, não nos podemos descurar, porque o nosso corpo é que está sempre a combater, e se descurarmos, um pouco que seja, o nosso trabalho físico fora do treino, estamo-nos a pôr em risco, a nós, ao nosso corpo e á nossa saúde, e, portanto, acho que isso é o que nos põe mais à prova enquanto praticantes de rugby.

 

Tem outros gostos a nível do desporto além do rugby e futebol?

(DC) - Gosto de muita coisa! Quando consigo faço desportos de neve, ski, por exemplo, faço também desportos de rio, wikboard e wiksurf, ou seja, tenho uma atividade física bastante regular.

 

Como ocupa os seus tempos livres?

(DC) - O que mais gosto de fazer nos meus tempos livres é estar em casa a descansar, quando não tenho nada para fazer, aliás eu acho que, como tive na competição durante tantos anos, desde os meus 14 anos, descansar para mim é muito importante. Também nunca fui uma pessoa de sair à noite, nem de fazer nada que me afastasse do meu compromisso desportivo, então habituei-me a gostar de descansar Fora isso também adoro passear ao sol e, sempre que posso e tenho férias, viajar.

 

É difícil gerir a vida desportiva com a profissional e pessoal?

(DC) - Eu diria que a vida profissional não, porque sempre consegui equilibrar as coisas, uma vez que o meu trabalho está ligado ao desporto. Em termos pessoais não foi difícil, mas sei que pequei em algumas partes, porque desde muito cedo que sou atleta, e desde muito cedo que faço parte da seleção, então não tenho fins de semana livres. Quem está no desporto é raro ter fins de semana livres quando compete. Quando não tinha jogo tinha seleção nacional, tinha que ir para Lisboa, tenho muitas viagens para Lisboa, até mesmo durante a semana, e então aí a vida pessoal foi um bocadinho afetada porque houve momentos em que me privei de estar com a  família, mas não me arrependo nem um bocadinho e eles sempre me apoiaram.

 

Como vê a participação feminina no desporto, em geral, e no rugby, em particular?

(DC) - No desporto em geral eu acho que as mentalidades estão a evoluir, as coisas estão a crescer, em Portugal um pouco mais atrasadas, mas as políticas vão mudar, no sentido de as oportunidades serem iguais. Acho que vamos chegar a um caminho que será igual para todos, acredito nisso e luto por isso. Todas nós lutamos, e esse dia vai chegar!

 

Era expectável para si ser nomeada treinadora do ano na XIII Gala do Desporto Universitário da FADU?

(DC) - Não estava nada à espera. Acho que foi no Instagram que vi que estava nomeada, e foi uma surpresa. Não estava à espera, porque há tantos campeões nacionais, em tantas modalidades… porquê nesta modalidade?  Fiquei mesmo surpresa, mas claro, é sempre agradável.

 

Conhecia os restantes treinadores que também estavam nomeados?

(DC) – Nenhum. Mas é giro porque depois fui pesquisar e deu para conhecer. O desporto universitário está a crescer, e desde a altura em que eu competi, enquanto jogadora, até agora, há uma diferença abismal. A obrigatoriedade de os treinadores serem credenciados, é espetacular, é uma evolução natural, que só vai fazer com que o desporto universitário seja o que tem de ser. Parabéns por isso, o que estão a fazer é o que tem de ser feito no desporto nacional, estamos todos a ir para o lugar onde queremos estar.

 

Como foi para si ter sido a única treinadora mulher a ser nomeada nesta categoria?

(DC) - Isso foi giro! Não sei quantas mulheres existem a treinar no desporto universitário, mas gostava que tivesse havido mais nomeadas. Gostava que, no próximo ano, fosse um homem no meio de não sei quantas mulheres… espero que assim aconteça!

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