Raquel Queirós tem pedalada de estudante-atleta

A carreira de Raquel Queirós corre sobre duas rodas. Com 21 anos, está a terminar a licenciatura em Ciências do Desporto na Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, venceu a primeira Volta a Portugal feminina e entregou a camisola amarela ao avô, que também foi ciclista. Além disso, integrou a comitiva que representou Portugal nos Jogos Olímpicos de Tóquio, com participação na modalidade de BTT XCO, alcançando já este ano o décimo lugar nos Mundiais de sub-23 da mesma modalidade.

 

 

És ciclista e frequentas um curso de desporto. Como é que começou o gosto por esta área?

 

Raquel Queirós (RQ) – Quando era mais nova abriu na minha terra, Guilhabreu [Vila do Conde], uma escola de ciclismo e o meu irmão foi experimentar. Na altura disse-me que tinha gostado muito, perguntei ao meu pai se também podia ir e acabei por me apaixonar. É um desporto que une muito as crianças, ali eramos todos amigos e acabava por ser um sítio onde convivia e brincava mais do que fazia desporto.

 

E participavas por exemplo no desporto escolar?

 

RQ – Sim, cheguei a participar quando era mais nova, penso que no quinto e sexto anos. Na altura já tinha bastante experiência na modalidade, já treinava bastante e eram provas bastante fáceis e que me corriam bem. Competiam connosco meninos da escola que não praticam ciclismo e acabavam por ser provas fáceis.

 

Desde cedo notaste diferenças nas participações masculinas e femininas?

 

RQ – No BTT, que é o que eu pratico mais, a discrepância entre géneros é muito menor do que no ciclismo de estrada. Por exemplo, e falando mais nesta minha fase de carreira, nós já temos os prize money com valores equivalentes. Desde que eu participo que tudo é igual, é uma vertente do ciclismo onde já há igualdade. O ciclismo de estrada ainda está pouco desenvolvido nesse aspeto. Tivemos agora a primeira Volta a Portugal feminina, mas não houve cobertura da corrida, o valor dos prémios monetários é completamente diferente do dos homens, só tivemos quatro etapas, não tem nada a ver com a prova masculina. Apesar disso, estamos a crescer no sentido certo, porque já houve a primeira Volta. Lá fora é um pouco igual e já temos corrida feminina por exemplo no Giro e agora no Paris-Roubaix também vai haver, mas continua a haver maior diferença do que no BTT.

 

O papel da mulher no desporto, à semelhança do que acontece noutros setores, ainda é um pouco relegado para segundo plano mesmo nas organizações?

 

RQ – Há países já mais evoluídos do que nós nesse aspeto e é um pouco triste porque não há razão para isso acontecer, homens e mulheres deveriam ter os mesmos direitos e oportunidades. Mas acho que, sobretudo as atletas, têm sabido posicionar-se ao participar em eventos, contribuir também com a sua opinião, e daqui para a frente a tendência é que haja melhorias. No ciclismo em particular, já temos algumas mulheres em cargos importantes, na federação e não só. São pessoas que sabem, que já foram ciclistas, que só querem o melhor para a modalidade e por isso acho que esta primeira Volta é o início de uma bonita página da história do ciclismo feminino.

 

Neste contexto, o que significou para ti vencer a primeira Volta a Portugal feminina?

 

RQ – É um marco muito importante para o ciclismo, mais um passo no sentido certo que já devia ter sido dado há mais tempo. Falta muito ainda para termos uma grande Volta feminina, mas com o tempo vamos conseguir. Em termos de preparação, a verdade é que não me preparei porque soube que ia participar no dia antes, às cinco da tarde, porque era suposto eu estar numa outra competição, de BTT, no estrangeiro. Acabei por não ir e decidimos que ia à Volta a Portugal. A estrada não é o meu objetivo, a época já ia longa e vinha de corridas muito difíceis, como o campeonato do mundo e da Europa, e participei mais para desanuviar um pouco e fazer uma coisa diferente. Correu bem. Saiu tudo perfeito e não podia estar mais contente comigo e com todos os que estiveram envolvidos nesta Volta a Portugal, as minhas colegas e a minha equipa. Foi importante também para Portugal e penso que também é um orgulho ter uma portuguesa a vencer a primeira Volta.

 

Foste sem ter previsto, isto implica que corpo e mente tenham uma grande preparação. Como se consegue?

 

RQ – É um conjunto de coisas. O descanso é sem dúvida muito importante, até mais importante do que o treino. A alimentação também, costumo dizer que isto funciona como um carro, se não lhe metermos gasóleo do bom o carro não anda e aqui é igual, nós andamos como comemos. Se comemos mal nunca vamos render tanto. A parte mental também tem de estar bem, o bom ambiente familiar, o suporte e apoio, é o conjunto de todas estas coisas alinhadas.

 

O desporto acaba por servir como escape, por exemplo, em fases de maior stress?

 

RQ – Sem dúvida que acaba por ser um escape. Quando temos algum problema familiar ou por alguma razão não estamos tão bem e estamos zangados, acaba por ser sempre uma forma de aliviar. Também quando estamos com muitos exames, é sempre uma forma de fugir ao stress e aliviar a mente com as coisas positivas que o desporto nos traz e que são tão boas.

 

E não sentes por vezes que o ciclismo é um desporto um pouco solitário?

 

RQ – Sim, mas isso é uma das coisas que me faz gostar tanto do ciclismo. Gosto de depender só de mim, de trabalhar muito duro, de dar tudo de mim e de no fim estar orgulhosa, saber que dei tudo e que consegui alcançar o que queria. Essa parte é o que me chama também mais para o ciclismo.

 

Nunca experimentaste outras modalidades? Nomeadamente coletivas…

 

RQ – Não.

 

No entanto estás a tirar a tua licenciatura em Ciências do Desporto na Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. Como foi na hora de escolher o curso?

 

RQ – Mais ou menos no 12º ano deixei de ter dúvidas de que o desporto era a área onde eu me encaixaria melhor, e que era aquilo que eu gostaria de fazer quando fosse mais velha e deixasse o ciclismo. Não tanto na parte do alto rendimento, mas na parte do ensino porque é mesmo algo que eu me vejo a fazer no futuro. É também um bom complemento daquilo que eu já sei, e que pode ajudar no ciclismo agora, enquanto sou atleta. Aprendemos coisas que são muito úteis e que se eu não estudasse desporto não saberia. Faz-me ser melhor atleta. 

 

Estás a terminar o teu curso, ainda não conseguiste participar nas competições universitárias por uma questão de calendário. Se conseguires, gostavas de representar as cores da Universidade do Porto?

 

RQ – Gostava muito. Quando me inscrevi – penso que ainda antes do covid – não consegui ir porque tive outra competição e obviamente que não posso faltar nas competições em que tenho mesmo de ir, mas gostava muito de participar no desporto universitário, é algo muito bom e gostava de fazer parte dele.

 

Das competições onde já participaste e tendo tu esta época uma participação na prova de XCO nos Jogos Olímpicos de Tóquio, o 10º lugar nos Mundiais de sub-23 e a conquista da primeira Volta a Portugal feminina… o que mais te marcou?

 

RQ – Os Jogos foram sem dúvida um marco muito importante na minha vida de atleta, ainda sou muito nova e só o estar lá já foi uma grande conquista, espero que tenha sido a primeira de muitas participações. Apesar de não termos ficado na aldeia olímpica, porque a nossa pista era longe e nós ficamos num sítio mais perto e mais pequeno, estávamos na mesma vila que os maiores nomes do ciclismo internacional, a comer com eles… algo muito bom e que só se vive mesmo nos Jogos Olímpicos, não há mais nenhuma competição em que isso aconteça. A corrida em si foi incrível, o ambiente também, o público era fantástico porque os japoneses são uma comunidade incrível e de gente com bom coração, têm uma mentalidade muito diferente da nossa. Foi bom poder disfrutar sem grande pressão nem expectativas. A Volta marcou-me pelo significado emocional que teve, o meu avô foi ciclista e eu quis muito ir para conseguir a camisola amarela e entregar-lha, ele que infelizmente já está muito debilitado e doente. Ficou muito contente e orgulhoso de mim e isso é o mais importante.

 

O enriquecimento cultural que o desporto proporciona é um dos grandes prós de quem é desportista?

 

RQ – É uma parte importante porque conseguimos esquecer um pouco a pressão das competições e dos resultados e acabamos por disfrutar daquilo que o ciclismo nos traz de bom. Conhecer novas culturas, sítios muito bonitos e sem dúvida de que faz muita diferença nas nossas vidas. Acaba por nos deixar um bocadinho de cada sítio, formar-nos e toldar-nos os nossos gostos. Adoro ir a Itália por causa da comida, trazemos sempre um bocadinho daquilo de que mais gostamos em cada sítio e isso é muito importante também.

 

Em termos de apoios e subsistência no ciclismo… ainda se depende muito da família e do esforço pessoal dos ciclistas?

 

RQ – No início é óbvio que tem de haver um esforço e apoio nosso e dos pais. Atualmente não tenho qualquer gasto no ciclismo, tenho patrocinadores, tenho uma equipa que me leva a todas as corridas, que me dá apoio e tudo o que é preciso. A federação não nos dá apoios monetários, mas quando participamos em corridas como campeonatos do mundo, disponibilizam-nos recursos como nutricionista, psicólogo e médico. Agora como estou no projeto olímpico tenho ainda o apoio do Comité Olímpico de Portugal, como todos os atletas têm.

 

 

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